Atividade mineral no país sobrevive à crise

Valor Econômico 
Por Ana Paula Machado — De São Paulo


Produção sobe e é beneficiada por alta dos preços; recolhimento de royalty (Cefem) tem projeto de crescer 5% no ano



Apesar da pandemia da covid-19, que causou forte retração na atividade econômica brasileira no primeiro semestre, o setor de mineração segue em ritmo acelerado. Nas duas primeiras semanas de setembro, as exportações de minério de ferro, por exemplo, chegaram a 17,3 milhões de toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). A média diária da tonelada embarcada cresceu 42,48% no comparativo com o mesmo período do ano passado, que foi de 1,52 milhão de toneladas.

O valor da tonelada negociada na exportação durante a primeira quinzena de setembro foi 74,49% maior que a cotação apurada no mesmo período do ano passado, de acordo com a Secex. A média diária negociada, segundo os dados, foi de US$ 172,6 milhões no período.

Outro mineral que se destaca é o cobre. As exportações do metal e seus derivados, conforme os dados da Secex, a média diária alcançou 5,32 mil toneladas no período, alta de 26,66% na mesma base de comparação anual. Em termos de valor negociado, informa a secretaria, a média diária, foi de US$ 12,3 milhões.

“Esse desempenho mostra que a operação das mineradoras está melhor do que no ano passado. Isso em um ano em que a economia mundial sofreu um baque”, disse o consultor de relações institucionais e econômicas da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), Waldir Salvador.

Segundo ele, com os resultados que verifica no setor este ano, a arrecadação da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cefem) deverá atingir R$ 4,7 bilhões em 2020, crescimento de 5% em relação ao ano passado. O carro-chefe desse valor é minério de ferro. “A arrecadação média mensal está em torno de R$ 370 milhões. Se continuar no ritmo de agosto, que foi de R$ 490 milhões, esse valor anual pode atingir R$ 5 bilhões”, afirma o consultor da entidade.

Salvador ressaltou, porém, que esse bom momento se deve, em grande parte, à valorização do minério de ferro, que no ano acumula alta superior a 30%. Na sexta-feira, a cotação do produto, com teor de 62% de ferro, negociado no porto de Qingdao, na China, fechou em US$ 124,90%. “O dólar [no atual patamar no Brasil] nesse patamar e os preços da tonelada da commodity nesse ritmo explicam essa arrecadação do royalty”, destaca.

A produção mineral no país teve um faturamento de R$ 39 bilhões no primeiro semestre, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Desse valor, a representação do minério de ferro foi de 59,3%. Já a participação do ouro - cujo preço teve elevada valorização no ano devido ao cenário global da economia - foi de 13,7%. A do cobre, 7,8%. “Podemos ter aumento na arrecadação de Cefem, puxada por maior produção da Vale”, disse o presidente executivo do Ibram, Wilson Brumer, durante apresentação dos números do primeiro semestre.

Salvador, da Amig, disse que a mineradora está fazendo 1 milhão de toneladas ao dia, somente nas operações situadas em Minas. “A Vale vai conseguir cumprir os objetivos desse ano, mesmo com as operações em Minas Gerais ainda sem operar à plena capacidade. Há minas que estão paradas por razões de estabilidade de barragens. Assim que resolver esse problema, a companhia, tem uma projeção de produzir 177 milhões de toneladas em Minas Gerais, no final de 2023.”

Para este ano, o guidance de produção total da Vale é de 310 milhões de toneladas a 330 milhões de toneladas. No primeiro semestre, a companhia fez 127 milhões de toneladas. A expectativa da mineradora é de ao menos 183 milhões de toneladas de minério de ferro neste semestre.

O analista de mineração e siderurgia do Itaú BBA, Daniel Sasson, disse que a Vale deve produzir 50 milhões de toneladas a mais neste semestre em relação à primeira metade do ano, o que poderá ajudar a empresa a atingir o piso do guidance estimado para 2020, de 310 milhões de toneladas.

“No primeiro semestre, tivemos o impacto do clima, com as chuvas na região Sudeste. Aliado a isso, a parada de operações de algumas minas por causa do novo coronavírus. Por tudo isso, a produção no segundo semestre deve vir mais forte. E isso vai fazer a arrecadação da Cefem subir na mesma medida”, disse Sasson.

Segundo o analista, outro fator que pode impulsionar o recolhimento da alíquota do royalty - que varia percentualmente entre os minerais - é o preço do minério de ferro. Sasson estima que a cotação da commodity deve permanecer no patamar de US$ 100 até o final do ano. “A produção das siderúrgicas chinesas continua a surpreender. Isso deve se manter”, afirmou.