Barragem que ameaça Macacos começa a ser desmanchada pela Vale

Estado de Minas
Mateus Parreiras

Mais de 100 famílias foram retiradas preventivamente de Macacos devido aos riscos de rompimento da Barragem B3/B4, em Nova Lima. Descaracterização do barramento é medida de segurança e segue normas de boas práticas, segundo a Vale

Barragem B3/B4, em Nova Lima, atingiu nível crítico em 2019(foto: Divulgação/Vale)

Começa nesta semana o processo de descaracterização (desmanche e reintegração) da Barragem B3/B4, da Mina Mar Azul, que ameaça a comunidade de Macacos, em Nova Lima, como adianta a reportagem do Estado de Minas. É uma das três consideradas em risco iminente de rompimento por ter atingido o nível 3 de instabilidade. A informação é da mineradora Vale, proprietária do empreendimento.

Um sinal de que a paz pode voltar ao distrito de São Sebastião das Águas Claras, conhecido como Macacos, em Nova Lima, onde 125 famílias já foram removidas por segurança. As demais barragens em nível 3 são Forquilha III, no complexo da Mina de Fábrica, no município de Ouro Preto, e a Barragem Sul Superior, na Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais.

Segundo definição da Agência Nacional de Mineração (ANM), a descaracterização de uma barragem ocorre após a estabilização da estrutura. É feita com a reconformação do terreno, remoção parcial ou total do reservatório. A depender da estrutura, é feita a revegetação para reintegração ao ambiente local.

Nessa fase inicial, serão removidos 222 mil metros cúbicos de material de uma pilha de estéril que fica a montante da barragem. Essas obras têm duração prevista de seis meses. Para realizar a remoção da pilha serão utilizados equipamentos não tripulados, garantindo, assim, que os trabalhadores atuem em segurança, fora da Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem.

Na sequência, terá início a remoção gradual dos rejeitos da B3/B4, que também será feita com equipamentos remotos e com trabalhadores fora da ZAS. As obras contarão com 220 trabalhadores temporários, a maioria contratada em Nova Lima e região. Não foi estimado um prazo de conclusão.

Moradores de Macacos precisaram ser evacuados às pressas, durante a noite(foto: Mateus Parreiras/EM/D.A.Press)

A mineradora Vale informou que para garantir o controle da operaçãoserá feito o monitoramento constante dos indicadores de uso de água, qualidade do ar e ruídos.

"Serão tomados todos os cuidados para evitar a disseminação da Covid-19, segundo as orientações das autoridades de saúde e tendo como foco a segurança dos trabalhadores e dos moradores das localidades", informa a empresa.

Antes de iniciar a descaracterização da barragem, a Vale concluiu em outubro a implantação de uma contenção de rejeitos na região. Com 33 metros de altura e 190 metros de comprimento, a estrutura tem a finalidade de reforçar a segurança durante a execução das obras na B3/B4 e proteger toda a Zona de Segurança Secundária da barragem.

Ela terá as áreas impactadas revegetadas ainda durante o mês de novembro. Após finalizada a descaracterização da barragem, a contenção será removida e a área recuperada.

Muro para proteger Macacos foi construído no caminho dos rejeitos(foto: Divulgação/Vale)

"Ações contínuas para reforçar a segurança também serão implantadas, conforme os novos parâmetros de segurança adotados pela legislação e de acordo com as melhores práticas nacionais e internacionais", informou a Vale.

A primeira barragem que teve concluído o processo de descaracterização foi a 8B, na mina de Águas Claras, em Nova Lima, em dezembro 2019. Em agosto de 2020, a Vale iniciou as obras de descaracterização da barragem Doutor, da Mina Timbopeba, em Ouro Preto.

Para iniciar os trabalhos foi preciso garantir, em primeiro lugar, a segurança das famílias da Zona de Autossalvamento (ZAS), nas comunidades de Antônio Pereira e Vila Antônio Pereira, iniciando a remoção dos moradores.

O processo, conduzido pela Defesa Civil com apoio da Vale, caminha para a conclusão, com 62 famílias já realocadas e outras seis ainda em procedimento de escolha de suas moradias.

Outra estrutura que passa por obras que a farão perder as características de barragem é a Barragem de Fernandinho, localizada na Mina Abóboras, no complexo Vargem Grande, em Nova Lima.

Barragem do Doutor também é descaracterizada, na Mina de Timbopeba, em Ouro Preto(foto: Divulgação/Vale)

Os trabalhos consistem em retirar parte dos rejeitos e solo do reservatório. No final, haverá recuperação ambiental da área. Durante as obras, não estão previstos impactos para a comunidade da região, pois as atividades e acessos usados para transporte de equipes e materiais ficam em área da própria empresa.

A previsão é de concluir as obras até o primeiro trimestre de 2021. O Dique Rio do Peixe, estrutura interna da Barragem Pontal, em Itabira, também já teve suas obras iniciadas.

Em outras estruturas estão em andamento ações preparatórias com a finalidade de iniciar os respectivos processos de descaracterização. São elas: barragens Sul Superior (Barão de Cocais), Forquilhas (Itabirito), Vargem Grande (Nova Lima) e dique 2 (estrutura interna da Barragem Pontal, em Itabira).

"Em todas as obras a Vale realiza medidas como triagem diária, testagem de empregados, distanciamento social, reforço da higienização e distribuição de máscaras, dentre outras ações, para prevenção e enfrentamento da Covid-19", informa a empresa.

As atividades fazem parte de ações para reforçar a segurança das estruturas geotécnicas, baseadas na atualização da legislação e no processo de melhorias na gestão de barragens. Esse processo implica a adoção de parâmetros cada vez mais conservadores com base nos avanços da tecnologia e nos apontamentos dos órgãos competentes e das consultorias técnicas.


Descaracterização acompanhada

Uma auditoria independente do Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG) acompanha os processos de descaracterizações de barragens. Todas as ações precisam ser protocolados na Agência Nacional de Mineração (ANM) e na Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad), conforme exigências legais.

"A Vale reforça que todas as suas estruturas são acompanhadas permanentemente por inspeções em campo, manutenções, monitoramento por radares que detectam movimentações milimétricas, estações robóticas, câmeras de vídeo com inteligência artificial e por instrumentos, como piezômetros manuais e automatizados, drones de inspeção, radar satelital e geofones (sensores para medir ondas sísmicas)", informa a mineradora.

Em 2019, a empresa informa ter inaugurado dois Centros de Monitoramento Geotécnicos (CMG) em Minas Gerais, com objetivo de monitorar mais de 120 estruturas geotécnicas em tempo real. "Dessa forma, caso alguma alteração seja detectada, a empresa consegue tomar decisões de maneira mais ágil, assertiva e segura para todos", afirma a Vale.