Nesta entrevista, ele fala sobre um novo modelo de mineração no Brasil, cita experiências bem-sucedidas em seu município e discorre sobre a luta histórica das cidades mineradoras e o que pode ser feito para aproveitar o bom momento merca- dológico do setor mineral.
As empresas mineradoras têm tido lucros recordes devido a alta do preço do minério de ferro. Como os municípios mineradores podem aprovei- tar o bom momento do setor?
Mantendo seus planos de difersificação econômica. A mineração é finita e temos que aproveitar esse bom momento para investir e preparar as cidades para seu fim. Estamos vendo o caso específico de Itabira, onde está anunciada a exaustão mineral em dez anos. Temos que nos preparar para essa exaustão exatamente nesse apogeu, criando fundos de desenvolvimento econômico que visam a sua substituição. Temos que fazer isso agora. É como diz Churchill: “é nos melhores momentos que nós temos que fazer aquilo que é mais difícil”.
A discussão sobre mineração passa pelo desenvolvimento sustentável. Você tem um histórico muito ligado às causas
ambientais. Como con
Não dá
mais para pensar em uma mineração que
não integre o meio ambiente.
A sustentabilidade é uma
questão obrigatória em diferentes atividades, sobretudo, na extração mineral — ainda mais depois dos acidentes em Mariana
e Brumadinho, que estão ressignificando todo o modelo de atividade mineral. É dentro dessa nova realidade que precisa ser construída a relação entre os territórios e a atividade mineradora. Em Conceição temos trabalhado a mineração como aliada da proteção ambiental
no território. Temos,
por exemplo, a rodovia MG-10, que
está sendo 100% financiada pela Anglo American. Ela liga Conceição
ao Serro e vai ligar os
circuitos turísticos da Serra do Cipó
e dos Diamantes. Com recursos da empresa também estamos fazendo
o nosso aterro
sanitário, o
primeiro licenciado pela Superintendência
Regional de Meio Ambiente (Supram)
Jequitinhonha. E, dentro dele, faremos
um parque ecológico. Vai resolver
definitivamente o problema de
resíduos sólidos em Conceição e
região. São ações de sustentabilidade
da mineradora. Temos outros exemplos, como o investimento no Parque do Tabuleiro, que é a maior cachoeira de Minas, para transformá-lo em uma referência para o Brasil. Agora mesmo, também por iniciativa da Anglo American, em uma parceria com o município, estamos
participando de um projeto alemão de
aceleração de unidades de
conservação. Temos também
investimentos nas áreas social, infraestrutura e meio ambiente. Estamos criando um fundo de regularização fundiária
de áreas pro- tegidas para
regularizarmos os parques ecológicos instalados em Conceição.
No âmbito da Amig, o que tem sido feito para orientar e apoiar
as cidades minerado-
ras em torno do seu desen- volvimento e independência econômica?
Estamos fazendo um convênio inédito com a Agência Nacional de Mineração (ANM) para delegar aos municípios, com capacitação e qualificação técnica, as ações de fiscalização e controle da atividade mineradora. É uma luta histórica da Amig. A ANM é o órgão regulador com a função de fiscalizar e promover a mineração, mas, infelizmente sofreu um sucateamento ao longo do tempo. Outra questão muito importante foi o aumento da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), de 2% pra 3,5%, no caso do minério de ferro. Mesmo assim, os nossos royalties continuam sendo os menores dos países produtores e exportadores de minério, se comparado com Austrália e Canadá. Esses grandes lucros da mineração estão, porém, em jazidas específicas. Então, nós da AMIG, estamos propondo a criação de uma participação especial da mineração nas reservas de grande rentabilidade. Agregando, é claro, a um fundo de diversificação econômica das cidades mineradoras. Também precisa acabar com a Lei Kandir na exportação do minério de fer- ro. Hoje, a indústria chinesa não paga o ICMS ao estado de Minas Gerais, local de origem do produto mineral. Precisamos começar a pensar o desenvolvimento da cadeia produtiva para dentro do Brasil e não para fora. Os benefícios fiscais têm que ser internos. Isso quebrou o estado de Minas Gerais e desindustrializa o país. Foi um trilhão de reais em renúncia fiscal que a Lei Kandir impôs à Minas Gerais nos últimos 23 anos, sendo que 80% dessa renúncia fiscal é sobre exportação mineral.
Em relação ao acordo de Brumadinho, em que Vale pagará uma quantia bilioná-
ria como reparação ao rom- pimento da barragem Mina Córrego
do Feijão, as cidades mineradora não
foram escu- tadas nesse processo e elas são um dos entes mais importantes
nessa discussão. O
Nós vamos
conversar com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) no
fi- nal de junho para ver se
há espaço para uma proposta que contemple, no mínimo, um fundo de diversificação econômica
para as cidades mineradoras. Já que nesse acordo
com a Vale as cidades mineradoras sequer foram ouvidas
ou procuradas para opinar,
sendo que ele foi feito com recursos
provenientes justamente dessas
cidades as mineradoras, que ficam com todo passivo ambiental e social da mineração.