Estudo afirma que reputação da indústria mineral brasileira caiu drasticamente

A mineração brasileira tem o desafio de melhorar a reputação para continuar crescendo e explorando novas fronteiras, como as jazidas na região Norte. De acordo com Ana Luísa de Castro Almeida, diretora do Reputation Institute, em dez anos, a reputação da indústria mineral brasileira caiu 15 pontos e chegou a 55 pontos, com perda de respeito, confiança e admiração pelos entrevistados. O setor ficou entre os setores mais mal avaliados, ao lado de telecomunicações e construção e engenharia.

Para ela, o setor é bastante fechado e ainda trabalha com a percepção de que, por não atuar diretamente com o consumidor final, não precisa ter um diálogo mais transparente com a sociedade. A internet tornou o mundo todo mais transparente, o setor tem um olhar de curto prazo com um viés operacional muito forte, sem dar ênfase ao capital social, declara.
Em vez de um discurso de mineradoras engajadas em produção com menor custo, é preciso ter empresas que se preocupem em dialogar com todas as partes interessadas para construir algo melhor. No Canadá e na Austrália, países com tradição mineral, as pessoas têm a percepção de que a indústria mineral é extrativa, mas que cria benefícios sociais e ambientais; no Brasil a impressão das pessoas é de que ela causa estragos, afirma.

Para Wilson Nélio Brumer, presidente do Conselho Curador da Fundação Renova, a indústria precisa reforçar a parceria com a sociedade civil e todos os agentes que participam da cadeia necessitam de conhecimento na área. Ele cita dois exemplos de quando atuava como executivo no setor. Quando era diretor financeiro da Vale, que dava os primeiros passos para iniciar a exploração da mina de Carajás, no Pará, um executivo do Banco Mundial, que seria um dos financiadores do projeto, indicou que seria preciso construir tabas de concreto para índios. Foram gastos US$ 13 milhões na ideia. Os índios iam meio que forçados durante o dia, mas à noite voltavam para dormir onde estavam acostumados, diz.

Em Moçambique, quando era representante do Conselho de Administração, percebeu que a mineradora enfrentava constantes greves de seus funcionários. Enquanto o gerente de recursos humanos falava inglês, os trabalhadores falavam português. A sugestão foi demitir o funcionário sênior e procurar alguém que falasse português. As greves pararam. Isso mostra que todas as partes interessadas têm de conhecer a indústria, assim a parceria pode se fortalecer, disse.
A sócia da Brunswick no Reino Unido Carole Cable destaca que experiências na África e no Chile mostram parcerias de sucesso entre as mineradoras e as comunidades daqueles países. Em Moçambique, afetado pelo alto desemprego e pobreza, uma mineradora abriu 300 postos de trabalho e havia uma demanda várias vezes superior. A cidade, que era pequena, passou a ter mais de cinco mil habitantes. A empresa saiu a campo para entrevistar os moradores e perceber quais os maiores problemas. A maior parte do desemprego era de mulheres. Muitas sabiam apenas cozinhar e costurar.

A saída foi criar uma cooperativa em que as mulheres podiam costurar sacolas ou fazer uniformes para a fábrica. Ouvir é essencial e sempre pensar em responder à pergunta do que será a região depois de a mina estar exaurida; o lucro não é mais o ponto, a questão é o propósito social da empresa. Gosto, por exemplo, do objetivo da Disney, que diz que busca fazer as pessoas felizes, diz.

Segundo Alberto Nínio, diretor de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da Vale, a mineração está em regiões remotas em que há uma virtual ausência do Estado, o que exige que as parcerias sejam firmadas. Ele afirma que, quanto mais próxima a empresa está da comunidade, mais fácil fica resolver eventuais problemas criados com a atividade mineral. Com informações do Valor Econômico.

Com informações do site Notícias da Mineração