Governador de Minas Gerais apoia mudança na Lei Kandir

Em reunião com entidade que representa os territórios minerados e impactados pelo setor, Zema reconheceu a importância da incidência do ICSM sobre bens não renováveis

Com o objetivo de levar ao conhecimento do Estado as principais demandas das cidades com atividade de mineração e afetadas pela mesma, membros da diretoria da Associação dos Municípios Mineradores de Minas e do Brasil (AMIG) reuniram-se com o Governador, Romeu Zema, em 5 de abril, na Cidade Administrativa. Entres as principais pautas, a necessidade de corrigir a distorção presente na Lei Kandir, que há mais de 20 anos desonera o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para bens não renováveis exportados. Zema concordou com a importância de alteração no caso das matérias-primas provenientes da extração mineral, cujos recursos são finitos.  

A lei, promulgada em 1997, impede a taxação do minério enviado ao exterior, como consequência a Federação perde recursos que poderiam ser usados em benefício de políticas públicas para a sociedade.  “Está na hora de uma revisão na Lei Kandir para commodities minerais exportadas”, disse o Governador do estado que mais produz minério de ferro no Brasil.

Os dirigentes da AMIG reiteraram que não são contra a Lei Kandir e endossaram o posicionamento de que ela precisa ser revista para o caso específico de bens não renováveis. O pleito é justo, visto que atualmente as matérias primas são exportadas com valor competitivo no mercado internacional e, em troca, os territórios minerados não são devidamente compensados proporcionalmente a degradação causada pelo setor.

José Fernando Aparecido, presidente da Associação e prefeito de Conceição do Mato Dentro (MG), enfatizou que a legislação favorece a expansão da indústria no exterior em detrimento do Brasil. Para mudar esse cenário, ele disse contar com o apoio do Governo do Estado de Minas Gerais. “É preciso ter uma visão agregadora de valor internamente, de gerar emprego e renda em território nacional”, afirmou o presidente.

Além da Lei Kandir, outros temas nortearam a reunião: diversificação econômica, recolhimento da CFEM para impactados, direcionamento dos recursos da CFEM, o acordo entre a Vale S.A e o Estado, além do acordo de cooperação técnica entre ANM e municípios.

 

PREPARO PARA A EXAUSTÃO MINERAL

A escassez das jazidas é uma preocupação frequente para territórios minerados e afetados pela atividade, por isso a AMIG levou ao Governador a necessidade de o Estado e municípios investirem em diversificação econômica.

Maior parte da renda das prefeituras e de civis em cidades ligadas ao setor dependem da mineração e, atualmente, quase não existem projetos de estímulo à economia local em outras áreas.

Além de medidas para incentivar formas de arrecadação municipal, a criação de um fundo de reservas estava entre as propostas apresentadas pela AMIG. “Uma das soluções para minimizar o fim da atividade nas finanças locais é a criação de um fundo soberano, com parte dos recursos da CFEM recebida pelo Estado e por municípios”, sugeriu José Fernando.

Um exemplo da iminente exaustão mineral é vivido pela cidade de Itabira (MG), cujas operações da Vale S.A. estão previstas para encerrarem em nove anos. A situação preocupa os residentes e os gestores municipais pela incerteza na segurança econômica local futuramente.

O caso de Itabira foi levado pela AMIG ao Governador, que solicitou suporte para evitar um colapso nas finanças. “Se nenhuma atitude for tomada, em pouco anos virá a exaustão mineral e com ela o caos social”, disse Marco Antônio Lage, diretor de meio ambiente da Associação e prefeito de Itabira.

 

A DISTRIBUIÇÃO DA CFEM

Na distribuição da CFEM, 15% dos recursos são destinados para municípios afetados pela atividade e nos quais não ocorre produção, quando cortados por ferrovias e dutovias, onde se localizam pilhas de estéril, barragens, instalações de beneficiamento e demais estruturas previstas no plano de aproveitamento econômico.

Cidades com produção de minério também recebem 15% da CFEM, porém não podem contar com nenhum suporte financeiro caso sejam também impactadas. A AMIG considera injusta essa distribuição e pleiteou junto ao Governador que todos os municípios recebam pelos impactos do setor, independente de comportarem ou não exploração em seus territórios.

Em resposta o Zema disse que “essa distribuição é absurda” e se propôs, junto a Associação, encaminhar à presidência um pedido de Medida Provisória (MP) para que todos afetados pelo setor, sem exceções, recebam a CFEM de impactados.

 

POSICIONAMENTO DO ESTADO NO ACORDO COM A VALE

Em janeiro de 2019, o rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), resultou na morte de 270 pessoas e em danos ambientais irreversíveis. Como forma de reparação, foi assinado um acordo em fevereiro de 2021 com o Estado de Minas Gerais.

O valor total do acordo ficou definido em R$ 37,68 bilhões, dos quais R$ 11,06 bilhões dizem respeito a ações que ficaram sob responsabilidade do Executivo mineiro. Desse montante, nada foi convertido medidas de diversificação econômica ou infraestrutura das cidades nas quais a Vale atua.

A AMIG perguntou a Zema porque o Governo de Minas não aplicou parte do valor nas necessidades dos municípios, o Governador alegou ter sobrado pouco dinheiro para as ações do Estado, pois maior parte dos recursos já estavam carimbados para obrigações que a Vale e o Ministério Público determinaram.

APLICAÇÃO DA CFEM

O presidente da Associação aproveitou a reunião com o Governador para questionar como o Estado tem utilizado sua parcela do recurso da CFEM. Zema disse ter aplicado em melhorias nas vias de acesso às cidades.

Em resposta, José Fernando deixou claro que muitos acessos às cidades mineradoras e afetadas pelo segmento continuam defasados. “Os municípios ainda não sentiram ou perceberam nenhum reflexo dessa aplicação da CFEM pelo Estado”.

 

CONQUISTA HISTÓRIA SEM APOIO DO ESTADO

A data de 16 de junho de 2021 representou um marco histórico na mineração no Brasil, porque foi o dia em que a Agência Nacional de Mineração (ANM) publicou no Diário Oficial da União, a Portaria nº790/2021. O documento permitiu a fiscalização da CFEM  por municípios mineradores. A medida teve como objetivo desafogar a ANM que, ate então, possuía apenas sete fiscais para todos o país.

Em 6 de dezembro do mesmo ano, ocorreu em Belo Horizonte (MG) a capacitação de 68 servidores municipais para fiscalizarem o recolhimento dos royalties da mineração.

O direito às prefeituras de acompanharem com mais proximidade o setor que tanto os impacta, coibirá a sonegação no país, que como demostram os relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) é enorme. As informações nos documentos mostraram que a CFEM recolhida pela atividade ao país deveria ser pelo menos o dobro, caso a fiscalização ocorresse de forma eficaz.

 

Devido a importância do projeto com a ANM, durante a reunião com Romeu Zema, a AMIG solicitou ao Governador que Secretaria da Fazenda aderisse ao acordo de cooperação técnica para que o Estado começa a participar das fiscalizações.

Até o momento do encontro com a Associação, o Estado de Minas Gerais não havia demostrado nenhuma intenção de ingressar na fiscalização da ANM. Ao contrário do que ocorreu no Pará, em que o Governo, além dos municípios fez questão de se envolver no acordo.