Publicado em 15/03/2020 - 13:22 Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
O reaproveitamento de rejeitos de concentrado de lítio, resultantes da produção de tântalo de duas antigas barragens desativadas desde 2018, construídas a montante em uma mina no município de Nazareno, em Minas Gerais, vai reforçar a pauta de exportações do Brasil. O projeto, que conta com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é realizado pela empresa AMG Mineração S.A.. Em consequência dos rompimentos das barragens em Brumadinho e em Mariana, o método a montante foi proibido no Brasil pela Agência Nacional de Mineração (ANM).
O BNDES entra no projeto com o financiamento de R$ 221 milhões, que representam 18% do investimento total e, segundo o chefe do Departamento de Indústria de Base e Extrativa do BNDES, Flávio Mota, está prevista a produção de 90 mil toneladas por ano do concentrado de lítio. Todo o material extraído nos três primeiros anos já tem como destino a exportação para a China, o que resultará no aumento em 10 vezes da produção nacional de concentrado de lítio, insumo considerado de alto valor agregado e de crescente demanda internacional, especialmente para a energia renovável.
“É emblemático para o Brasil. Hoje o país produz 9 mil toneladas de concentrado de lítio por ano. Esse projeto multiplica por dez a capacidade de produção do Brasil de concentrado de lítio. O projeto passa a produzir 90 mil toneladas por ano e isso insere o Brasil como fornecedor relevante nessa cadeia de alto valor”, revelou o chefe do Departamento à Agência Brasil.
Mota informou ainda que essa produção vai favorecer também a produção de energia renovável. “O aumento da capacidade de armazenamento de energia renovável é considerado um fator super importante neste momento da economia global para uma matriz de baixo carbono. Esse projeto conversa diretamente com isso, porque o viabilizador do movimento são as baterias de lítio, que têm impacto na sociedade como um todo”, concluiu.
As barragens estão localizadas em uma mina operada há 38 anos pela AMG, que integra um grupo holandês com atuação nos setores de mineração, metalurgia e engenharia de materiais. A empresa identificou que nos rejeitos do tântalo, principal elemento químico explorado no local, havia um nível de concentrado de litio e que seria interessante a sua exploração econômica. “Eles vão pegar os rejeitos dessas barragens, vão extrair o concentrado de lítio, que vai ser comercializado. O concentrado de lítio é a primeira etapa do processo para a obtenção do elemento químico para a aplicação final nas baterias ou produtos eletrônicos. Ele já é considerado de alto valor agregado”, observou.
Descaracterização de barragens
O projeto vai contribuir para a descaracterização das duas barragens desativadas e dar um fim econômico e social aos rejeitos, reduzindo os riscos para a população, além de contribuir na produção de energia renovável. “Ao mesmo tempo em que ajuda a empresa em seus resultados econômicos, por meio da exploração de um material de alto valor agregado em uma cadeia associada à utilização de baterias, que é uma demanda hoje no mundo bastante crescente, ataca o problema que a gente vive hoje aqui no Brasil, e o grande start foi o acidente de Brumadinho, que é a questão de descaracterização de barragens que teve a sua expansão via método a montante”, observou.
Geração de empregos
O projeto gerou 2 mil postos de trabalho indiretos durante as obras e 130 novos empregos. A prioridade é para a mão de obra local das cidades de Nazareno e São Thiago. Não está descartada a possibilidade de o banco apoiar iniciativas semelhantes em outras mineradoras. De acordo com Mota, sempre que a instituição identificar ou receber projetos com impacto social e ambiental estará disposto a analisar. Isso se estende a outras áreas da mineração.
“Hoje tem aplicações diversas para esses resíduos, que têm impactos sociais muito diretos. Por exemplo, estuda-se utilizar a aplicação de rejeitos na fabricação de tijolos para a construção de casas, outra alternativa é na fabricação de material asfáltico para fazer rodovia e pavimentação. Então, existem outras aplicações. O BNDES tem contato com alguns parceiros no intuito de estudar e ajudar a viabilidade desses projetos de dar uma aplicação aos rejeitos”.
“A participação do BNDES no projeto está alinhada com a estratégia da instituição de investir mais no social”, completou.
Edição: Graça Adjuto